COISAS EMPACOTADAS
- Escutando atrás da porta?
- Não! Como pode pensar isso de mim vô?! Estava aqui olhando a madeira, parece ter cupim, tem que mandar alguém ver isso – falava com uma cara de riso.
- Entre! Estava indo lhe chamar mesmo. – Mariela entrou e não reconheceu o escritório. Os livros, que antes ocupavam todo o espaço das prateleiras, não estavam mais lá. A mesa, onde o avô se sentava, estava totalmente vazia, sem papéis, fotos. O escritório estava maior do que de costume, podia-se até ouvir o eco da própria voz, as coisas que antes ficavam lá estavam agora em caixas. A menina agora entendia, ele estava arrumando as coisas. Ela começou falando.
- O senhor ia me chamar?
- Ia sim, sente-se numa dessas caixas, tenho uma coisa pra lhe dar – o homem levantou uma das tábuas do chão de madeira e de lá tirou uma caixa. A menina olhava curiosa, viu o avô tentando se levantar e fazendo um barulho imenso para isso, parecia que estava carregando uma montanha nas costas. Mariela quase se levantou para ir ajudá-lo mas ele mandou ele ficar sentada.
- Acho que estou ficando velho. – E riu. A menina achava o avô curioso, ele ria de tudo.
- O que é? – Mariela agora apontava para a caixa de madeira na mão dele. Seu avô arrastou um caixote e se sentou, ficando de frente para a menina e a caixa no meio.
- Isso filha... – fez uma pausa. Ficou olhando para a caixa, como se lembrasse de algo, continuou – era de sua mãe.
- Minha mãe?!
- É. Era dela – ele sorriu.
Ela ficou olhando , ainda surpresa. S.Tino entregou a caixa para Mariela, ela pegou e começou a observar. Era de madeira, pequena, com uma árvore grande talhada no centro, o que dava um ar épico. Passou a mão em cima.
A menina sabia pouco da mãe e do tio, seus avós nunca falavam sobre o assunto, nem se quer conversavam. Era até difícil para Mariela imaginar que um dia eles foram felizes juntos.
-Sua mãe – começou ele- gostava de histórias, mas não gostava de ler como você, gostava mais de contar. Quando pequena, ela falava muito de uma árvore, nunca entendi direito mas mandei fazer essa caixa para ela guardar as coisas dela, mandei fazer a arvore igual a como ela descrevia nas histórias que contava – por fim, disse - pode abrir se quiser, agora é sua.
Mariela olhava para o avô, que parecia estar tão ansiosa quanto ela , a menina teve a ligeira impressão que fazia tempo que ele não mexia na caixa. Abriu e dentro havia fotos, agora seu avô sorria distraidamente olhando para a imagem de um menino e uma menina abraçados, sorrindo; mexeu um pouco mais na caixa e descobriram mais algumas fotos, todos tão mais felizes, mais vivos. E por fim, o medalhão. Ele brilhava dentro da caixa, S.Tino enfiou a mão dentro e tirou-o.
- Ela vivia com ele, a sua mãe. Ganhou de sua avó quando era bem nova, já está na família dela por muitas gerações. – Fez uma pausa e continuou com um ar mais sério – olhe, sua avó não sabe que eu estou com esse medalhão, e nem pode saber. Ele é seu por direito, mas por favor, não o mostre para sua avó e nem diga que o possui, pode fazer isso?
- Posso, mas por quê?
- É que, como eu lhe disse, Maria vivia com isso e sua avó não gosta muito de lembrar.
-Entendo – fez-se um silêncio entre os dois em que a menina ficou olhando para o medalhão e pensando, faltava alguma coisa – por que que a vovó não sabe que o medalhão está com você se a mãe não estava usando ele na noite em que desapareceu?
- O que fez você pensar que ela não estava usando-o?
- Ela estava?! – Milhares de perguntas vieram à mente de Mariela mas nenhuma realmente saiu de sua boca, ficou esperando uma explicação, não foi o que aconteceu. S.Tino devolveu o medalhão para a menina, levantou-se olhando para a janela e deu as costas. Depois de algum tempo ele se virou, olhou para Mariela e sorriu.
- Onde está Lênin? – Perguntou ainda sorrindo.
- O quê? Hã...Não sei. Como assim ela estava? – A menina estava impaciente.
- Isso é uma história para outra hora, cada coisa há seu tempo, filha – mas Mariela não podia deixar pra depois, pensou em milhares de coisas, estava confusa.
- Você matou minha mãe?
- Não! Por Deus! O que você tem na cabeça? – S.Tino riu muito. A menina agora estava envergonhada por ter pensado aquilo do avô.
- Desculpa.
- É complicado Mariela, mas prometo que um dia lhe conto como consegui o medalhão, certo? – Ele ainda ria um pouco.
- Certo – estava conformada. Depois da vergonha que sentiu, deixaria a história para depois.
- Vá procurar Lênin pra mim, Pixote – falou S.Tino, retomando a conversa.
- Aquele gato! Vive sumindo. Não entendo porque o senhor gosta tanto dele, ele quase não fica em casa. – S.Tino não falou nada em relação às reclamações de Mariela, ainda olhava distraidamente para a janela.
- Vô?
- Oi?
- Obrigada. – A menina pegou a caixa e saiu.
S.Tino pensava nos filhos, na vida, no gato. Também não entendia por que gostava tanto dele.
4 de março de 2009 às 20:44
É minha loirinha!
Que ótimo você está com NET mais uma vez!!!
Achei show de bola!!!
Massa o B.
5 de março de 2009 às 00:40
Massa!, eu poderia simplesmente escrever, mas seu texto é muito mais do que um mero vocábulo moderno pode definir. Por esse caminho há uma enorme luz brilhando à sua espera.
Fraterno abraço do amigo Gilbamar.
5 de março de 2009 às 00:57
História interessante...
Sendo que estou retribuindo a visita e prometo voltar mais vezes.
Fiquem com Deus, menino Atreu e menina Doroti.
Um abraço
5 de março de 2009 às 08:47
Apto = apartamento
Tô tentando comprar um, mas tá dificiiiil rs
Eu ainda não ouvi o som do post ai debaixo, mas vou ouvir ainda para dar minha opnião viu.
Beijussss