(I)

A casa onde eles moravam era enorme, de esquina, a maior que havia no bairro. Tinha um estilo europeu, um quintal enorme com uma árvore bem no meio, lá havia uma porta que dava para a cozinha, bem pequena para uma casa tão grande. Quase toda a casa era ocupada por dois grandes escritórios, um do avô Tino e outro de D.Eli, foi feito uma reforma na casa, como só moravam 3 pessoas, derrubaram todos os quarto em baixo para fazer os escritórios. Um ficava de frente para o outro; de um lado a cozinha e do outro a sala e a porta da frente, a escada dava para o primeiro andar onde ficava os quartos, um da menina, um de casal e outro que antes pertencia ao tio da Pixote mas agora estava desocupado; poderia servir como quarto de hóspedes, isso se alguém se hospedasse lá. Havia também a empregada que era mexicana, por isso, nunca conversava muito mas arrumava tudo na casa e ia embora, D. Eli acordava e ia trabalhar cedo, se trancava no escritório, o gato desaparecia, Pixote tinha aula a tarde e pelo dia ficava sozinha com a empregada, normalmente lendo em cima da árvore, mas estou sendo injusta ela não ficava só, estava com Jolie.
Gostava de ficar em cima da árvore porque podia ver a rua, e as meninas da idade dela indo para a escola. Algumas vezes sentia inveja daquelas garotas, sabia que todas elas a achava Pixote meio louca por falar sozinha, já tentou parar de falar com Jolie mas não conseguiu era sua única amiga, apesar de imaginária, sabia que ela era única.

- Olha quem saiu da toca! – Falou Jolie com um sorriso maléfico. – Aquele gato idiota! e tá vindo pra cá..
O gato vinha olhando fixamente para Jolie, de alguma forma inexplicável o gato também parecia vê-la, ou Pixote queria acreditar muito naquilo para não se sentir tão louca ou realmente ele a via, mas uma coisa era certa, o gato e a menina imaginária se odiavam. O Lênin subiu na árvore onde elas estavam e começou a miar em direção a Jolie.
- O que meu avô faz tanto lá dentro? Principalmente esses dias, ele tá lá com minha avó conversando faz horas, isso me assusta. – Quando sua avó chegara do trabalho na semana anterior tinha uma expressão preocupada, a menina podia até afirmar que ela havia chorado. Desde então o clima andava pesado na casa e ela não fazia idéia do que estava acontecendo mas nunca viu os avós conversando tanto e D. Eli faltar o trabalho para isso só podia ser algo grave.
Agora já havia deixado o livro de lado e encostado a cabeça em um tronco da árvore, Lênin ainda miava de um jeito irritante na direção da Jolie.
- Para Lênin! – Gritou Pixote e empurrou-o pra fora da árvore, ela já estava bem nervosa e o gato não ajudava muito.
- Olha, se você não tivesse feito eu tinha, aquele gato já tava me irritando. –Jolie também parecia preocupada...
- Os seus avós andam estranhos mesmo.
-É, mas eu não quero me meter, de qualquer forma, seja lá o que for eu sei que eu vou ficar sabendo alguma hora. – A porta do quintal abriu, era a empregada, chamava-se Benedita tinha mais ou menos uns 40 anos, os cabelos começando a ficar grisalhos, pele morena clara, parecia uma índia e tinha também um olhar de mãe. Vinha gritando freneticamente em direção a Pixote.
- Chica, tu avuelos! Te llamam, vien! – E de novo.
- Vien!
- Seus avós tão te chamando! – Falou Jolie, parecia curiosa. -Tá na hora de saber o que eles tanto conversam. Vai lá!
A menina foi em direção a Benedita, preocupada com o que ia escutar, olhou pra trás pra ver Jolie na árvore mas ela não estava mais lá. Lênin entrou no escritório com ela. A cena que se passou mudou a vida da Pixote para sempre.